RESENHA: A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS

Júlio Verne | Martin Claret | 264 páginas | 2012

Phileas Fogg é um inglês milionário, enigmático e pouco comunicativo que mantém sua vida de forma muito metódica e organizada. Membro do Reform-Club e um exímio jogador de whist, esse cavalheiro nunca é visto nos círculos sociais onde, devido ao seu status social, se esperava que ele estivesse. De fato, ninguém sabe quem realmente ele é ou de onde havia surgido toda a sua fortuna.

“Phileas Fogg era como essas pessoas matematicamente exatas, que nunca estavam com pressa e estavam sempre prontas, que são econômicas em seus passos e movimentos. Ele não dava um passo a mais que o necessário, indo sempre pelo caminho mais curto. Ele não perdia tempo olhando para o teto e não se permitia nenhum gesto supérfluo.” (pp. 24)

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Graças à essa personalidade excêntrica não foi com pouca surpresa que o criado de Phileas, um parisiense corajoso e amável chamado Passepartout, recebeu a notícia de que os dois iriam dar uma volta ao mundo. Tudo teve início na noite do dia 2 de outubro de 1872, mais precisamente durante uma partida de whist na qual os jogadores conversavam animadamente sobre um roubo que havia acontecido e a possibilidade, levantada pelo jornal da época, de que alguém pudesse dar a volta ao mundo em apenas 80 dias.

“- O imprevisto não existe -, respondeu simplesmente Phileas Fogg. – Mas, Sr. Fogg, esse período de tempo de 80 dias só foi calculado como um tempo mínimo! – Um mínimo bem utilizado é suficiente para tudo.” (pp. 34)

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Todos os senhores se demonstravam céticos em relação à viabilidade de tal empreendimento, mas Phileas Fogg não o achava um absurdo, na verdade acreditava que era totalmente possível. Mesmo não tendo saído de Londres por muitos anos, Fogg demonstrava conhecer até o mais recôndito dos lugares e foi em decorrência de uma aposta no valor de 20 mil libras que o inglês e Passepartout partiram de Londres no primeiro trem rumo a essa viagem desacreditada. Sem muita demora, o teor da aposta se espalhou e a repercussão nos jornais era maciça! A maioria das pessoas se pronunciava contra Fogg, o que evidenciava a polêmica diferença entre a possibilidade e realização desse feito.

“Efetivamente, em 7 de outubro, um enorme artigo apareceu no Boletim da Sociedade Real de Geografia, que tratava da questão sob todos os pontos de vista e demonstrava claramente a loucura da empreitada. Segundo esse artigo, tudo estava contra o viajante: obstáculos humanos e obstáculos da natureza. Para ter sucesso nesse projeto era preciso admitir uma concordância miraculosa das horas de saída e de chegada, concordância essa que não existia nem poderia existir.” (pp. 41)

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Essa aventura foi programada nos mínimos detalhes para que nenhum dia fosse perdido, mas Fogg não podia imaginar que logo após sua partida ele seria dado como o principal suspeito do roubo de um famoso banco de Londres. A sua partida repentina foi interpretada como uma inteligente estratégia para despistar a policia inglesa e um agente, chamado Fix, foi encarregado de seguir o suposto ladrão até que pudesse prendê-lo. Durante as viagens de trens e navios, os três passam por Suez, Bombaim, Calcultá, Hong Kong, Yokohama, São Francisco e Nova York.

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Em alguns trechos, outros meios de locomoção menos usuais tiveram que ser utilizados e enfrentando alguns imprevistos todos até ariscaram suas vidas para salvar uma linda moça de um ritual muito estranho no meio da selva. Mesmo correndo contra o tempo, Fogg não se deixa inquietar pelas dificuldades e acaba revelando ser um homem honrado e bastante generoso. No entanto, ao final da viagem surge um imprevisto que definitivamente pode  custar 20 mil libras.

“Depois de haver percorrido esse longo percurso com firmeza, após ter derrubado mil obstáculos, enfrentando mil perigos e ainda ter encontrado tempo para fazer algum bem em seu caminho, morrer na praia diante de um fato brutal, que ele não poderia ter previsto, e contra o qual estava desarmado: isso era terrível!” (pp. 244)

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Esse romance lançado no ano de 1872 é impressionante. Narrada em terceira pessoa, a estória nos encanta pela forma como é abordada. A viagem é descrita minuciosamente, bem como os itinerários e os destinos pelos quais os personagens passam. Durante a jornada, conseguimos conhecer os aventureiros e de certa forma criar uma simpatia pelo misterioso e excêntrico Fogg, que a cada capítulo demonstra possuir um bom coração. Já Passepartout confere um carácter cômico à trama, com sua inocência e ideias inusitadas. Os diálogos são sucintos e prendem o leitor desde os primeiros capítulos, é impossível não torcer a favor do sucesso dessa corajosa iniciativa.

Nessa leitura, aventura e ficção científica se somam para nos envolver em uma viagem extraordinária onde descobrimos até que ponto a tecnologia da época e a imaginação de Verne são capazes de contornar as limitações de tempo e espaço. Nessa edição da Martin Claert, encontramos um mapa que nos ajuda a acompanhar os aventureiros, além disso, nas últimas páginas temos acesso a uma breve análise da obra que complementa a leitura deste clássico. Esse título foi o segundo que li de Júlio Verne e, com certeza não vou parar por aqui!

Classificação: ★★★★★ (5/5)

18 comentários sobre “RESENHA: A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS

    • maritzabom disse:

      Oi Carol!!

      Realmente, é uma pena que esse não seja um livro fácil de se achar comentários por aí.
      Até eles completarem a volta vai rolar um bocado de coisa, mas pode ter certeza que desafios e aventuras não vão faltar!! Acredito que você vai curtir, depois me conta o que achou!! 😉

      Muito obrigada, fico feliz que tenha gostado! ;*

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  1. Gustavo Bavareco Sucharski disse:

    Muito bom…. Ótima resenha.
    Esse é o tipo de livro que todo mundo já ouviu falar, mas quase ninguém leu… que é o meu caso, hehe.
    Novamente sua resenha me inspirou a retomar minhas leituras (bem atrasadas).

    Parabéns pela retomada do blog… essa nova cara é muito boa, uma vista limpa e objetiva que mostra o seu comprometimento com a essência do conteúdo, porém muito atenta aos detalhes sutis que tornam seu trabalho sempre tão charmoso…. sem falar nas fotos, que permitem explorar ao máximo os detalhes dessa edição, tornando bem completa a experiência de quem lê sua resenha!

    Parabéns novamente Mah… 😀

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    • maritzabom disse:

      Oi Gustavo,

      Muito obrigada! Fico feliz por você ter curtido a resenha e espero que você escolha um livro bacana para retomar suas leituras!! Explodi de alegria aqui com seus comentários sobre o blog, aos poucos tudo vai se ajeitando. Espero que o novo layout melhore a experiência do leitor e sugestões são sempre bem-vindas, viu?

      Muito obrigada!! 😉

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    • maritzabom disse:

      Oi Leandro!!

      Apesar de ser considerado um clássico, a narrativa é muito envolvente! Acredito que você vai gostar bastante. O autor consegue ser atual e criar personagens cativantes! Se você der uma chance ao Verne, depois me conta como foi!!!

      Abraço!!!

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  2. Suellen Marques disse:

    Desculpa, mas enquanto eu lia a resenha, a única coisa que eu conseguia pensar, era: caramba, que português maravilhoso é esse?! Você escreve muito, muito bem! Sou muito observadora nesse aspecto, e isso me encantou. Parabéns mesmo! E, a sua resenha foi muito boa! ❤️👏🏻

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    • maritzabom disse:

      Oi Suellen,

      Gostei muito do seu comentário!! 😉
      Também tenho um apego pelo bom português e tento sempre melhorar a escrita, fico feliz por você ter gostado na minha forma de escrever!! MuitooOo obrigada!!! ♥

      Espero que passe mais vezes por aqui, até mais!

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    • maritzabom disse:

      Oiii,

      Essas pilhas de leituras acumuladas sempre são um problema! Eu também estou com uma série de livros para ler aqui na estante, mas cada vez mais minha lista de livros desejados aumenta!! Esse livro é muito bom mesmo, depois que terminar de ler a sua pilha… dê uma olhada nele por aí!!

      Boa sorte no desafio, até mais! 🙂

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