RESENHA: PORTAL DO TEMPO

A. C. Crispin | Aleph | 256 páginas | 2016

Em meio a uma partida de antiquado xadrez bidimensional, Spock fica impressionado com os movimentos (a princípio sem sentido) do Dr. McCoy. Preocupado com o destino da sua rainha, o Dr. percebe a aproximação de uma jovem cadete. Teresa McNair, recém-saída da Academia que parece analisar muito cuidadosamente o material de uma micro-leitora. A foto, objeto de toda aquela analise, mostrava pinturas que faziam parte de dados arqueológicos do sistema Beta Niobe. A datação por nêutrons indicava que as pinturas tinham 5 mil anos de idade. Era muito estranho que as pinturas retratassem um rosto bastante parecido com o de Spock, uma vez que aquela região não havia sido colonizada por vulcanos. Ainda mais estranho, era a coincidência…

Há dois anos a Federação havia destacado a nave Enterprise para alertar o povo de Sarpeidon de que a Beta Niobe iria se transformar em nova. Nessa mesma época, influenciado pelo retrocesso de 5 mil anos na evolução dos vulcanos, Spock se envolveu com Zarabeth uma habitante da era glacial com quem manteve um relacionamento amoroso. Relacionamento que provavelmente culminou no nascimento, bastante improvável, de um herdeiro de Spock. Apesar de reticente, o vulcano tem muitas razões para acreditar que o rosto retratado na imagem corresponde ao seu filho antes desconhecido.

“… O rosto na parede mostra características vulcanas, sem dúvida, mas não é o meu. Os olhos são diferentes. O cabelo é comprido. As feições são de um adolescente ou, pelo menos de um moço. Há também outras coisas. Os artefatos encontrados na caverna, junto com as pinturas, mostram um grau mais elevado de civilização que o atingido pela raça que estava evoluindo naquele hemisfério. Sinais de metal trabalhado – uma lâmpada de pedra que queimava gordura animal. Anacronismos para aquele período.” pp. 32

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Quando as suspeitas se confirmam, Spock decide ir resgatar o filho do destino solitário e fatal que o aguardava. Além da improbabilidade do resgate, Spock planeja utilizar um recurso praticamente impossível, um portal do tempo chamado: Guardião da Eternidade. O Capitão Kirk tenta dissuadir Spock, mas o vulcano pretende apelar para T’Pau, que apesar de aparentar fraqueza… poderia contrariar as ordens de um almirante da Frota Estelar com apenas um pedido. Spock acredita que  T’Pau não irá ignorar seu pedido, devido ao grande apelo que a família tem na cultura de Vulcano. O planeta é virtualmente governado por uma oligarquia composta de diversas famílias notáveis, incluindo a de Spock. E ele não estava errado, T’Pau promete interceder junto ao conselho em favor da causa de Spock.

“- Lembra-te, Spock. Teu filho é uma pessoa. Cada ser tem sua própria dignidade e vida. Concede a teu filho essa dignidade. Ele é assunto teu, mas não é tu mesmo. Lembra-te de nosso símbolo – e ela tocou a medalha IDIC sobre o peito encolhido. – Dá valor às diferenças, bem como às semelhanças.” pp. 38

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Apesar de querer completar sua missão sozinho, Spock não consegue se livrar de seus companheiros. Os três, Capitão Kirk, Dr. McCoy e Spock retornam a Gateway, o planeta aonde pretendem atravessar o Guardião da Eternidade. Durante uma tempestade noturna, eles chegam ao destino e ao acordarem pela manhã se deparam com uma paisagem repleta de gelo turquesa e rochedos congelados. Após alguns dias de exaustiva procura,  McCoy encontra uma figura esfarrapada muito alta para ser apenas um garoto e ao remover o capuz do estranho, os três de deparam com o rosto da pintura. Cabelo preto e comprido amarrado para trás, barba feita… mais velho, talvez um homem de mais de 20 anos.

“O vulto vestido de couro estremeceu e gemeu. Os olhos abriram-se. Cinzentos, arregalados de medo, depois de acalmando, ao perceber os olhos azuis e amigáveis de McCoy e seu cabelo escuro e o sorriso simpático de Kirk. Ergueu mais o olhar, para Spock, cujo rosto estava encoberto pelo capuz da roupa térmica, e voltou para os outros dois. O rapaz sentou-se, um pouco tonto, esfregando o pescoço. Os olhos estavam arregalados agora, mas de curiosidade.” pp. 69

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Quando os quatro conseguem retornar a Enterprise, se deparam com uma situação bastante delicada. Ao que parece, uma esquadra de naves romulanas se aproxima de Gateway com objetivo desconhecido – lançando uma onda de dúvida na tripulação da Enterprise. Em mãos erradas, o portal do tempo pode se transformar em uma terrível arma de poder incalculável. E o conhecimento do portal por parte dos romulanos implica em uma possível traição… uma vez que a existência do portal é sigilosa. Sob a mira das naves romulanas, a nova missão da tripulação é proteger o portal e impedir que os invasores descubram sobre as viagens no tempo.

“- Só espero que não cheguemos tarde… Quando recordo o que um homem sozinho fez ao retornar no tempo, sem querer, tremo ao pensar no que os romulanos fariam, de propósito. O passado é tão frágil.” pp. 131

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Ao longo de manobras táticas e preparações para um inevitável conflito, Zar tenta se aproximar do pai, que se mostra cada vez mais distante e exigente. Spock sempre racional e muito metódico enche Zar de atividades intelectuais e pretende ensinar ao filho todos os costumes do seu povo. Apesar de Zar se mostrar bastante solícito e demonstrar talento na resolução de cálculos complexos, não se sente realmente acolhido e desejado. Aos poucos o relacionamento dos dois se torna insuportável e Spock terá que aprender a respeitar certas diferenças entre pai e filho. Com realidades separadas por 5 mil anos, juntos eles terão que enfrentar essas diferenças e tentar deter o avanço romulano. Os recém-descobertos poderes telepáticos de Zar podem evitar um tremendo desastre e uma decisão do jovem carregará consigo o peso de toda uma civilização.

“Não! Quando a ideia lhe ocorreu, sabia que estava errado. Uma pessoa saberia, tinha certeza, a despeito de toda lógica. Zar sentiria as mortes, a morte dele, pelo vínculo que não poderia ser aceitado ou negado, mas que existia, era um fato e, portanto, indiscutível. Forjado na mente, temperado no sangue, o antigo dito vulcano passava por sua mente, acompanhado por seu análogo humano. Sangue do meu sangue, carne da minha carne…”

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Esse é o primeiro de uma série de livros ambientados no universo de Star Trek, que foi publicada na década de 90 no Brasil pela Editora Aleph. O Portal do Tempo foi relançado pela editora no ano passado, nessa nova edição temos acesso à alguns conteúdos extras que incluem:  um prefacio escrito pelo jornalista Salvador Nogueira (criador do site TrekBrasilis), uma apresentação resumida dos principais personagens que aparecem no livro e uma lista de informações úteis sobre o universo Star Trek. Além disso, a capa foi alterada para uma versão mais moderna e maravilhosa!

Nesse livro, a autora americana Ann Carol Crispin deu continuidade ao penúltimo episódio da terceira temporada da série original, cujo título é All Our Yesterdays. No episódio, o Spock e o Dr. McCoy retornam à última Era Glacial de Sarpeidon e ao viajar no tempo o vulcano perde parte de seu lado extremamente lógico e se apaixona por uma habitante local chamada Zarabeth. A intenção da autora foi desvendar as prováveis repercussões que esse envolvimento teria na linha temporal e na vida de Spock.

Com uma narrativa fluída e objetiva, a autora  conseguiu se manter fiel à personalidade já conhecida de todos os personagens e nos conquistar com o corajoso Zar, que tem em Spock sua inspiração para se adequar e se sentir aceito. A estória é cheia de imprevistos e perigos, fazendo com que a leitura seja rápida. Durante os capítulos, a autora faz várias referências aos episódios e personagens da série, que são esclarecidas através de notas de rodapé. Além disso, ela consegue nos envolver em uma atmosfera muito parecida com a da série e dos filmes – a aventura e o humor rolam soltos! Toda a relação de Spock e Zar é bem plausível e engraçada, e a invasão dos romulanos dá um charme a mais ao resultado final do livro.

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Classificação: ★★★★ (5/5)

8 comentários sobre “RESENHA: PORTAL DO TEMPO

  1. Roberto Camilotti disse:

    Putz, eu quero ler esse livro!!!

    Bom, passado esse instante de euforia, vou ao comentário: Star Trek era daquelas série que eu conhecia mas que nunca havia me interessado. Pois bem, eu disser “era”. De uns meses para cá, redescobri a série e me apaixonei pela história. É como se só agora, visse seu valor; antes tarde do que nunca.

    Agora, você me apresenta um livro da série.

    Afff, lá vou me afundar em livrarias atrás desse livro, kkk

    Show de post!

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    • maritzabom disse:

      Oi Roberto,

      Fiquei feliz por você ter ficado com vontade de ler o livro e conhecer a história. Realmente essa série é ótima, e coincidentemente também me interessei por ela faz poco tempo! Como você mesmo disse: antes tarde do que nunca!

      Vai lá se afundar na leitura, depois me conta se curtiu!! 🙂

      Até mais e muito obrigada!!

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  2. Alice Martins disse:

    Olá, tudo bem?

    Eu sou totalmente leiga na série e em seu universo, mas fui fisgada pela sua resenha. Você narrou o contexto da obra com tantos detalhes que ao fim já conseguia enxergar os personagens, as suas ações e intenções. Gostei de saber que a autora soube desenvolver a história e passou longe de algo batido ou cansativo.

    Já quero muito ler. Parabéns pela resenha, ficou sensacional!

    beijos!

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  3. Ane Karoline disse:

    Oi! Eu adoro Sci-fi e esse livro já estava em minha listinha de desejos. Agora, após ler sua resenha, confesso que tenho mais vontade de lê-lo. Devo dizer que gostei muito da estética da sua resenha, você não se limitou a descrever o livro, sua narração foi feita de forma distópica e muito bem feita, por sinal. Parabéns! Adorei.
    Abraço,
    Ane.

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    • maritzabom disse:

      Oi Ane,

      Eu também adoro Sci-fi, e estava querendo ler esse livro faz um tempo! Eu acredito que você não vai se decepcionar, o livro é bem fluído e engraçado! Muito obrigada pelas suas observações, é ótimo saber que você gostou da estética da resenha! Espero que você passe por aqui mais vezes! 🙂

      Abraço!!

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  4. Bea Pires disse:

    Sabe que nunca assisti a Star Trek?? A prova é que até confundia com Star Wars, veja bem o tamanho da minha ignorância em relação ao assunto. Também não faz muito o meu género.. Eu e a ficção cientifica não nos damos muito bem, então me senti um pouco (muito) perdida no seu post, eheh.
    Mas fora de brincadeiras, gostei da resenha, você tem muito jeito com as palavras! Só que ainda não é desta que me convencem com a ficção cientifica, mesmo sendo escrita :p
    Beijos!

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    • maritzabom disse:

      Oi Bea,

      Até pouco tempo, eu também conhecia pouco sobre a série! Mesmo sem te convencer a ler ficção cientifica, adorei seu comentário! Muito obrigada, pelo elogio! Espero que você passe por aqui mais vezes e quem sabe… eu não consiga? rsrs

      Beijos!! 🙂

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